Da forma que concebemos, a malandragem não se trata de reino ou linha, mas de falange, presente em várias linhas.
Concebemos reino enquanto campo de forças natural. Portanto, a malandragem faz parte do reino da rua, do povo da rua. Um ponto que forças que abrange desde estradas, encruzilhadas e tudo que na rua habita, em sua urbanidade: cabarés, casas de jogos, teatros, rodas de capoeira, etc.
Procuramos nos desvencilhar do estereótipo do “malandro carioca”, pois, mesmo com a questão das regionalidades, trabalhamos com entidades do Brasil inteiro para resumir toda essa falange a um personagem da história carioca que habita um imaginário popular (e que tem sua relevância histórica, diga-se de passagem).
Em nossa concepção, “malandro” é aquele que faz o pão correr na rua. E é na rua que encontramos: trabalhadores de cais, carregadores de estações, ambulantes, etc, etc…
E é na “vadiagem” da rua que o trabalhador se cria, seja na capoeira, nos jogos de azar, na beberagem, na música, na dança e na “profandade” – cabaré, encruzilhada, tudo é ponto de força do reino da rua.
Inclusive, a boemia guarda não apenas as narrativas do trabalhador, mas das classes que se envolviam com arte, arte branca… as influências européias estão aí, nesse nosso caldo de cultura.
E é na boemia que a malandragem encontra a lira, devido ao reino em comum: a rua.
A lira mescla a arte européia à arte miscigenada das ruas: o jongo, a umbigada, as raízes do samba encontram-se com as marchinhas carnavalescas, o tambor encontra com os instrumentos de orquestra.
Por esta razão, a lira abraça desde artistas de rua, a de teatro, de cabaré de luxo a prostíbulos marginalizados… a lira habita no luxo e no lixo, por assim dizer.
A lira é falange inconteste. Gostando-se ou não, não há como questionar sua legitimidade graças à notabilidade da figura do Sr. 7 da Lira, entidade que deu todas as suas provas mediúnicas através de Mãe Cacilda de Assis, na década de 1970.
Mesmo com suas excentricidades, misturando pontos a sambas, marchinhas e orquestras, Sr 7 da Lira realizou muitas curas.
Inclusive, o símbolo da lira, enquanto instrumento europeu, foi e é símbolo que identifica o povo dessa falange. Por este motivo, consideramos incabível relacionar a lira com algum povoado africano de mesmo nome, como vem sendo proposto por revisionistas.
Obviamente que a lira e a malandragem, estando no reino da rua, vibram com força em exu. Mas, assim como qualquer falange, nela trabalham variadas estirpes de entidades, inclusive de bandas mistas.
Salve o povo da lira e salve a malandragem!
Saravá! Banda gira!
Mãe Aline Camargo, C.C.T
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Foto: Mãe Cacilda de Assis virada em Seu 7 da Lira