Oxoce

Oxoce

No dia 20 de janeiro, celebrou-se São Sebastião, sincretizado em Oxoce em muitas regiões do Brasil.

No período colonial, agricultores brasileiros invocavam São Sebastião para proteger suas lavouras contra pragas e epidemias que poderiam dizimar colheitas e animais. Em algumas regiões, São Sebastião é associado à chegada das chuvas, fundamentais para o cultivo. No sertão nordestino, por exemplo, sua festa em 20 de janeiro coincide com o início do período chuvoso, e muitos fiéis fazem procissões pedindo chuvas para suas plantações. Em diversas comunidades rurais, a festa de São Sebastião envolve bênçãos para os agricultores e suas plantações, além de procissões e oferendas pedindo colheitas abundantes.

No Brasil, São Sebastião é sincretizado com Oxoce, orixá da caça, da fartura e da floresta. Como Oxoce é um provedor de alimentos e guardião da natureza, essa associação reforça a ligação de São Sebastião com a abundância agrícola.

Assim como São Sebastião, soldado romano, Oxoce guarda em suas mitologias a grande proximidade com Ogum, sendo muitas vezes associado a ele como irmão ou filho, pois Ogum deu a Oxoce o ofá de ferro. Assim, Oxoce herda de Ogum a sua porção guerreira e destemida, como o grande desbravador das matas fechadas, abrindo caminhos, à semelhança de Ogum, que abre estradas e rodovias. Daí a semelhança também com Ogum, em seu modo nômade e inquieto.

Estamos sempre enfatizando a genialidade de nosso povo nos movimentos sincréticos. O padroeiro das lavouras e rebanhos, aquele soldado que morreu a severas flechadas é também o símbolo da linha das matas, da abundância e fartura de alimentos e dos guerreiros das nossas matas, cuja flecha é igualmente severa e a sua lei, sem pena.

Além de ser o Rei do Ketu, Oxoce é o Rei do Brasil. Título dado pelos próprios brasileiros, que reconhecem nos povos originários os verdadeiros donos desta terra. Enquanto Rei das matas, Oxoce também rege os povos que aqui viveram e derramaram seu sangue defendendo seus territórios e suas culturas, desde a Colonização.

A riqueza da Umbanda está em sua idiossincrasia em absorver tantos elementos diversos, por vezes até antagônicos, e uní-los de forma tão orgânica. Oxoce se manifesta nas matas brasileiras através das caiporas, curupiras e todos os seres encantados da floresta, sob a regência das divindades de todas as tribos indígenas de nosso país.

Enquanto a porção guerreira resultado da ligação entre Oxoce e Ogum é manifesta na linha dos caboclos boiadeiros, a austeridade de Oxoce e seu lado feiticeiro, sua ligação com os conhecimentos da mata, suas folhas, suas ervas e encantarias e pajelanças, são características destacadas pela linha dos caboclos Nganga, e representadas por divindades indígenas como Jurupari – guardião da floresta e das tradições espirituais, é implacável com os seres humanos que rompem com o respeito às matas.

Não por um acaso, o falangeiro de Oxoce geralmente apresenta-se como um verdadeiro ser encantado, ou seja, uma manifestação de um ser que não teve uma encarnação humana, trazendo em si traços de outros reinos de seres. Por isso sua incorporação em nossa linhagem é muito diferenciada da incorporação de caboclos, espíritos de homens e mulheres indígenas e miscigenados, cujas narrativas tão diversas têm em comum a vida terrena nas matas e tribos brasileiras.

A energia de Oxoce e seus comandados, os caboclos, é tamanha, que suas manifestações nos terreiros explodem em seus brados de guerreiros, caciques, pajés e cunhãs. É uma energia vibrante, quente, ágil e forte, ao mesmo tempo que belíssima, bela e primitiva, tal qual a flor das matas mais recônditas.

Dentre os caboclos, existem muitas falanges, de também diversos entrecruzamentos de reinos. Além dos boiadeiros e feiticeiros, citados acima, há uma miríade de manifestações com variadas regências: caboclos guerreiros, curandeiros, caciques, cunhãs, iaras e tarimas.

Salve 20 de Janeiro. Salve São Sebastião, salve Oxoce e saravá os caboclos!

Salve o Grande Capangueiro da Jurema. Kiô!

Okê arô! Oke Bamboclim!

Autoria: mãe Aline Camargo, C.C.T.

Tenda de Umbanda Caboclo Risca Fogo

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