Tendo ciência de que 13 de maio não se trata de uma data de verdadeira libertação, por que então celebrá-la em nosso calendário Umbandista enquanto festejo de pretos velhos?
Ora, sabemos que nenhuma religião é bloco monolítico no espaço-tempo. Religiões estão passíveis de revisões, especialmente balizadas por transformações sociais. Enquanto Umbandistas do século XXI, tendo mais acesso à educação formal e acadêmica, temos uma certa obrigação até moral em revisar questões doutrinárias que resvalem em questões de ordem político-social.
No entanto, revisar não significa alterar ritos e adulterar tradições. Ter a ciência de que esta data seja problemática nos compele a quebrar certos conceitos sem necessariamente com isso alterar a força que esta data carrega, em sua potência egregária. Data de celebração, aliada à intenção é força, como bem sabem tantas civilizações, desde a Antiguidade.
Tenho ouvido dizer sobre uma proposta revisionista de alterar a data de celebração para 20 de novembro. Uma data recente e que tem seus méritos, mas que suscita a pergunta: qual a necessidade disso e quais frutos se colheriam de tal empreitada?
Se a intenção é trazer a reflexão sobre escravidão e racismo estrutural, que o façamos todos os dias em nossos terreiros, ocupando o espaço físico de forma a trazer nossa comunidade para estas reflexões, estimulando o debate e ações que cobrem políticas públicas a favor da população negra.
A Umbanda é uma religião sincrética, com grande influência da cultura dominante. E, justamente por isso, nos cabe reconhecer nossa participação na legitimação de estruturas de poder que perpetuam o racismo. Reconhecer e lutar pelo resgate da nossa cultura, nos posicionar e nos ater naquilo que mais importa: igualdade social.
O grito de liberdade evocado pelos nossos pontos até hoje é sufocado. O negro permanece escravo do racismo. No entanto, quando um preto velho entoa seu ponto de cativeiro, ele não está a se lamentar. Ele está, ainda, a reivindicar a liberdade do povo que ainda sofre com os grilhões da violência, da miséria e da opressão sistemática sobre nosso povo.
Quando louvamos 13 de maio, louvamos a esperança no amanhã. Louvamos o direito de todo ser humano ser… humano. Cantemos a plenos pulmões em cada 13 de maio, certos de que essa voz ecoará o tempo necessário em nosso país, no mundo, até que a equidade restaure a verdadeira igualdade e dignidade humana.
Salve 13 de maio! Saravá os Pretos velhos!
Salve o povo de Mina
Salve o povo de Angola
Salve o povo do Congo
Salve o povo do Cativeiro
Salve o povo do Cruzeiro
Salve o povo da Calunga
Salve o povo da Bahia
Salve o povo das Almas
Saravá todas as falanges de pretos velhos! IÊ PRAS ALMAS!
Por Aline Camargo dirigente da Tenda de Umbanda Caboclo Risca Fogo e Tenda de Umbanda Caboclo Risca Fogo – Filial Caraguatatuba