Bom, primeiramente, um aviso de que este texto não representa todas as formas de trabalho da linha de boiadeiros. É importante lembrar que Umbanda (e todas as demais vertentes de macumba que cultuam boiadeiros) é multiplural. Portanto, não tome esta postagem como a única e correta forma de se firmar boiadeiros, sendo apenas mais uma forma, de acordo com minha tradição em particular.
O link da postagem original está nos comentários.
ARQUÉTIPO
Já discutimos aqui sobre a versatilidade de atuação de todos os guias e nossa necessidade de organizá-los em estereótipos e títulos. No entanto, é inegável que, quando incorporamos várias entidades, sentimos a diferença na energia e a facilidade de trabalho nessa ou naquela área, características comuns com outras entidades de uma mesma linha.
Boiadeiros possuem, em geral, uma energia quente, expansiva. Ígnea. Naturalmente baixam em situações que pedem uma intervenção drástica. Eles literalmente laçam os problemas, paralisam e retêm, até que a coisa volte a andar nos conformes.
Transitam entre várias linhas, sendo versáteis, trabalham em mão esquerda e direita. Possuem essa característica de laçar o que se deseja (ou amarrar o indesejável) ou estourar de vez a boiada, abrindo a porteira, seja para vencer uma ordália, seja para pisotear o inimigo.
Abrem e fecham caminhos. Desbravam matas fechadas. Garantem passagem segura. São mensageiros, mas também mascates, porque carregam sempre muita carga valiosa consigo. O boi, tão citado nos pontos cantados, é uma metáfora extremamente rica. Ela pode se referir a: demandas, graças a receber, pertences, espíritos errantes ou escravizados, médiuns desorientados, empecilhos e obstáculos, etc.
Existem boiadeiros de várias regências, mas devido à sua energia, pontos de forças e atuações, consideramos notavelmente: Xangô (força ígnea, correlação com o boi), Inhaçã (relação com espíritos – “eguns’), Ogum (característica desbravadora e guerreira) e Oxóssi (ponto de força nas matas).
E quem são os boiadeiros em nossa história? Longe do estereótipo do Rei do Gado, o fazendeiro ou vaqueiro, o boiadeiro nada mais é do que o homem do campo, do interior, da mata e do sertão. É o homem trabalhador do campo, ponto. Ou seja, todos temos ancestrais nessa linha, porque nosso país foi erguido sobre o suor do camponês.
Importante lembrar essa linha pode abranger caboclos boiadeiros (Oxóssi) e cangaceiros (Ogum).
FORMAS POSSÍVEIS DE CULTO
Vela: laranja (ou marrom, vermelha, verde – a depender da regência ou preferência da entidade. Na dúvida, branca.
Bebidas: cerveja escura ou cachaça
Fumo: palha, fumo de corda, cigarro
Flores: todas aceitas, mas as silvestres ficam como sugestão nossa. Flor do mato.
Comidas: comidas regionais rurais (por isso vai depender da região de culto). Por aqui, ofertamos feijão tropeiro, cuscuz paulista, (ou nordestino ao cangaço), milho, frutas, bovinos assados.
Ervas (banho e defumação): aroeira, guiné, chapéu de couro, fumo, alfavaca, alecrim, pata de vaca, louro, erva de bicho, espadas de São Jorge e Santa Bárbara.
Sementes: olho de cabra, olho de boi, açaí
Pertences possíveis: laço, corda, chapéu, faca, armas de fogo
Saudações (variações): jetruá, xetruá, xetro marrombaxetro (origens incertas)